Tenho uma visão particular sobre o espiritismo. Com o tempo e os textos que irei escrevendo aqui, isso ficará evidente para vocês. Hoje, vou falar sobre uma questão que me apareceu há uns dias atrás. Seria condizente ao espírita frequentar templos de outras religiões? Haveria algum problema nisso? Bem, pra ser bem direto: não, não há problema. Na minha opinião, é até o contrário. Eu indicaria isso a muitos espíritas e explico porquê.
Sendo o Espiritismo de filiação cristã, pode-se afirmar sem medo que este segue um dos ensinamentos mais profundos de Cristo, que dizia ser o nosso coração o único templo religioso relevante aos olhos de Deus. O único. Todos os demais templos materiais construídos pelo homem seriam, no máximo, projeções desse templo interno, locais, digamos, para socializar os cristãos (ou os crentes de qualquer outra tradição religiosa). Mas nunca, e isso deve ser ressaltado, nunca como lugar ou meio necessário para encontrar-se em Deus (tomo esta construção “encontrar-se em Deus” de empréstimo de Huberto Rohden). Daí, por exemplo, terem sido os desertos no decorrer da história um tipo de templo predileto para grandes figuras espirituais que passaram por este planeta.
Portanto, se o grande templo está “dentro de nós”, teoricamente não precisamos do templo de pedra, certo? Errado. Primeiro, por não sermos capazes, em geral, de realizar sozinhos este percurso de encontro com Deus. Frequentemente precisamos do auxílio de irmãos, seja com um incentivo, seja com o apoio moral, seja com a simples companhia na caminhada (embora, no fundo ela seja individual). Mas, mais do que isso, normalmente sentimos falta da palavra iluminada daquelas pessoas inspiradas, que por já terem caminhado mais que nós em sua comunhão com Deus, conseguem nos transmitir um pouco do que experimentam. Conseguem nos inspirar, nos sensibilizar para este “mundo novo”, conseguem alavancar nosso ânimo nos momentos difíceis. Conseguem, mesmo, compartilhar conosco parte dessa energia sublime que os rodeia.
E onde estão estas pessoas? Em muitos lugares, alguns talvez até inesperados, como um andarilho no deserto, um espírito já desencarnado, mas que deixou livros maravilhosos para nos auxiliar, etc.. Mas há lugares em que se pode encontrar mais desses espíritos com certa facilidade: os templos das várias religiões. Às vezes não é fácil, mas se tivermos persistência acabamos encontrando um grande espírito por aí, seja numa igreja católica ou protestante, numa casa espírita ou umbanda, em templos budistas, etc.. Há vários oradores maravilhosos, espíritos não-fanáticos que possuem uma sensibilidade que transcende qualquer denominação religiosa. E como se coloca o espírita nesse contexto?
O espiritismo nos ensina que todas as religiões têm sua razão de ser e que cada uma atende a diferentes necessidades. Sendo assim, está claro que não há “a religião certa” ou a errada. Além disso, o espiritismo se caracteriza por não possuir rituais, nem cargos eclesiásticos ou autoridades de qualquer tipo e tampouco uma “igreja” oficial. Sinto que esse último ponto não é muito claro para os espíritas. Mas, em minha visão, o espírita é uma pessoa livre para frequentar qualquer ambiente religioso, digamos, por exemplo, assistir pregações dominicais em alguma igreja, ou palestras nalgum centro budista, etc.. Nestes casos, o ideal seria apenas frequentar, mas isentar-se se possível de praticar os rituais. Mas mesmo que seja absolutamente necessário fazer isso, para não constranger ou desrespeitar os companheiros, em geral é possível ao espírita fazê-lo tranquilamente, sabendo que aquilo só tem valor simbólico para nós humanos, mas que aos olhos de Deus o que conta é o que vai no templo do coração.
Ou seja, o espiritismo seria como uma “super-religião”, uma espécie de perspectiva que nos permite observar e compreender as diversas manifestações religiosas sem julgamento ou preconceito. Ele nos permite nos colocar um pouco acima de todas elas, no ponto em que a essência delas culmina num ponto comum, em que aquilo que realmente importa está despido dos detalhes supérfluos que todas as religiões carregam. Bem, uma ressalva: esta é uma visão que considero ideal; mas sabemos que na prática o espiritismo também se prende a detalhes supérfluos.
Para concluir, finalmente, o espírita pode sim frequentar qualquer igreja, desde que tenha a consciência do seu gesto, desde que saiba discernir o essencial do supérfluo, desde que saiba fruir nestes ambientes aquilo que realmente importa: a energia espiritual benéfica, que estes lugares tendem a concentrar. Se há um padre, um pastor, um monge, etc., se há um grande espírito nas “redondezas”, minha sugestão é: não perca a chance de ouví-lo!!!
Mas nunca se esqueça: o templo está dentro de você mesmo.
ps.: Hoje, 06/Fev, como que para comprovar o que eu disse aqui, a vida me encaminhou – através dos queridos amigos que me recebem aqui em Curitiba, o Rafael e a Lori – para a palestra muitíssimo iluminadora do pastor Robson, da Igreja Evangélica Menonita Nova Aliança. Foi muitíssimo agradável e enriquecedor. Para quem está em Curitiba, um dica: vá lá aos domingos à noite (19:30) para conferir. Vale à pena! Só posso dizer que é muito bom ser livre o bastante para fruir tudo o que mundo tem de bom para nos oferecer, onde quer que seja!