Não é simples colocar em palavras tantas impressões e reflexões que uma viagem como a que fiz pode proporcionar. Tenho certeza que, seja qual for, o texto final vai me deixar ainda insatisfeito e com a sensação de injustiça sendo feita a algo ou alguém. Mas sou daqueles que dão imenso valor às palavras, mas que também entendem sua limitação intrínseca: a expressão através da linguagem implica em escolhas e, portanto, perdas e ganhos. Minha estratégia será então a de deixar virem livremente à tona as impressões enquanto escrevo, de modo que estas sejam ordenadas não necessariamente pela cronologia, mas pelo que meu subconsciente desejar.
Nesta viagem, em que passei seis dias em Lisboa e um dia em Barcelona, Paris e Roma, cada, não tenho dúvidas de que foi Lisboa a cidade que mais me cativou. Certamente, parte disso se deve à semelhança de nossas línguas (que, porém, não são iguais!), o que me permitiu interagir muito mais ricamente com os portugueses. Outro fator importante foi a simpatia dos portugueses em geral e o modo extremamente carinhoso com que fui recebido e tratado durante os dias que lá passei. Pessoas como Rita Marquilhas e seu marido, Ana Maria Martins, Ana Luisa Costa, Sandra, Clara, João Costa, Tiago e todos os demais com os quais tive contato (que por limitação de memória “rã”, falho em lembrar os nomes) tornaram minha viagem à Lisboa uma experiência prazerosa, divertida, cheia de sabores e cheiros, e com momentos de puro encanto e grande emoção, como na noite de fado, em Alfama. Lisboa certamente marcou seu território em meu coração e minha memória, mesmo tendo sido um encontro relativamente curto.
Tudo deu certo. Até agora me surpreendo quando penso em tantos detalhes que poderiam ter dado errado e comprometido bastante a viagem. Claro que em alguns momentos eu chegava no último minuto, mas nada como uma emoçãozinha. 😉 Antes da viagem, eu vinha há dias consultando a previsão do tempo e a mesma sempre previa chuva, chuva, frio e mesmo neve (em Paris). Porém, vida de meteorologista não é fácil. Cheguei num domingo ensolarado em que pude perambular pelo entorno do hotel durante todo o dia. E com sol o clima seguiu até quinta-feira de manhã. Chuva mesmo (e “dâj bôash”, como diriam os lisboetas ou alfacinhas), somente a partir de quinta-feira a tarde. E, em meu giro por Barcelona, Paris e Roma, encontrei sol em todas, com uma garoa fraca em Paris, a partir do fim da tarde. As temperaturas, em geral, estavam agradabilíssimas, variando de 7 a 12 graus em Lisboa, Paris e Roma, e entre 12 e 17 graus em Barcelona. Quer clima melhor para passear?
O ar provincial de Lisboa me atrai mais. Sim, Barcelona, Paris e Roma são lindas, sem dúvida. Mas são muito “badaladas”, digamos assim. Lisboa é mais “na sua”. Numa certa medida, Barcelona também. Mas Lisboa tem algo mais intimista, é isso. É como se estivéssemos em casa. Outra coisa importante para mim: Lisboa tem o fado e não apenas na versão “turista”, mas aquele fado genuíno, de portugueses para portugueses. Não há algo que me encanta e atrai mais do que as características genuínas e espontâneas do local. Adoro perambular pelas cidades que visito, em busca de lugares que me transmitam essa impressão. Em Lisboa você pode encontrar isso. Nas demais, eu não consegui encontrar, mesmo perguntando para habitantes locais. É claro que pode ter sido apenas a falta de tempo, mas foi a impressão que ficou. Certamente, a lógica de preferência se inverte para quem está interessado em compras ou em grandes baladas, o que não é definitivamente o meu caso.
Outra coisa que particularmente me agradou muito em Lisboa foi o preço. Lisboa, como eu disse, é menos badalada e talvez por isso pratique preços mais justos e acessíveis. Paris, nesse aspecto, me desagradou muito, Roma também, embora menos. Barcelona também não é barata, mas fornece um exemplo claro: enquanto em Lisboa eu pude assistir a um fado genuíno, de altíssima qualidade e sem pagar nada, em Barcelona paguei 41 euros para assistir a uma apresentação de música e dança flamenca, não tão boa e feita para turistas. Enquanto em Lisboa você vai para o aeroporto pagando uma tarifa normal de metrô (1.25 euros), em Paris você gasta mais de 10 euros por trecho (Aeroporto-Centro ou vice-versa), sendo mais de 5 euros por trecho em Barcelona e pelo menos 5 em Roma.
Por fim, sinto que foi uma viagem muito instrutiva. O trabalho que fui fazer foi bastante produtivo e me deu a oportunidade de ter uma ideia muito melhor do que encontrar em cada um destes lugares. Roma, com suas ruínas milenares é algo instigador para a imaginação. Paris certamente deve ser um paraíso para os interessados em museus e atrações de toda sorte. Barcelona é uma cidade que exala organização, planejamento, além de apresentar construções com uma estética diferenciada (Gaudi) e ainda ser costeira. De Lisboa, já falei demais. Até a surpresa de encontrar uma prima, Lisboa me proporcionou. Certamente, cada uma dessas cidades merece uma viagem específica para ser conhecida e desfrutada com calma. Ficou muito forte a vontade de retornar o mais breve possível para Portugal, desta vez não a trabalho, claro. Sobre o local em que assisti ao fado, se chama Mesa de Frades e foi muito bem descrito aqui. De Lisboa, saí com o sentimento transmitido neste fado lindo, “É de Lisboa”, que tive o prazer de ouvir ao vivo.
Serei sempre muitíssimo grato às pessoas que tornaram possível esta experiência, as simpatissíssimas e grandes pesquisadoras, Rita Marquilhas e Ana Maria Martins. Obrigado a vocês!
Inesquecível, engradecedora, e com a sensação de “quero mais”. Assim foi esta viagem.