“Será que, à medida que você vai vivendo, andando, viajando, vai ficando cada vez mais estrangeiro? Deve haver um porto.”
— Caio Fernando Abreu
Ganhei essa frase numa tirinha de papel, nalguma atividade que já não me lembro mais. Guardei-a por que gostei muito dela, porque ela faz muito sentido para mim. Fiquei pensando no quanto me sinto, de fato, cada vez mais estrangeiro em meio às pessoas e aos lugares mais diversos, seja no que vivo atualmente, sejam os que visito. E esse ficar estrangeiro implica uma boa dose de solidão, obviamente.
Num primeiro momento, isso parece algo ruim, triste, melancólico. E é mesmo, até que comecemos a entender que este é o percurso esperado, quando se caminha para dentro, quando se assume uma trajetória centrípeta, na direção oposta do centrifuguismo próprio às infindáveis distrações do mundo.
Mas, “deve haver um porto”.
Sim, creio que há, mas este porto não está em nenhum “lugar” que não em mim mesmo. Talvez eu nunca chegue lá de fato, embora o tenha ao alcance da visão em muitos momentos. Talvez, com muito empenho, eu até o alcance mas seja incapaz de me demorar por lá, me perdendo dele novamente. Nestes fugazes momentos, o sentimento de solidão se enfraqueceria e uma plenitude seria pressentida, tocada de leve, inspirada profundamente. Mas seria apenas como lufada de ar efêmera.
Quem sabe, um dia, num passo crucial de iluminação, eu consiga enfim aportar e descer à terra de meu eu, onde então a plenitude me alcançaria de todo, e esse estrangeirismo em seu ápice de vazio e solidão se desfaria de vez, substituído por um sentimento de profunda paz, conexão comigo, com Deus e com o mundo.
É este o porto que almejo encontrar e encontrá-lo-ei, um dia.
Oxalá!